Em Salvador, apartamento de 400 m² celebra arte regional e design brasileiro
Quando está em Salvador, Ticiana Villas Boas costuma despertar bem cedo, antes do restante da família, para deitar-se confortavelmente em uma volumosa rede, posicionada ao centro do living, e admirar com tranquilidade o nascer do sol diante do mar.
No processo, o living integrado – que antes contava com peças de antiquário, azulejos portugueses e poucos ícones do mobiliário modernista brasileiro, como a chaise Rio, de Anna Maria e Oscar Niemeyer – ganhou importantes adições contemporâneas, fruto da investida da proprietária no design autoral nacional. Ticiana abriu espaço, portanto, para criações de Arthur Casas, Lattoog, Bruno de Carvalho, Daniel Jorge e Marilia Pellegrini – apenas para citar alguns dos profissionais que abrilhantam o portfólio da empresa, comandada por ela ao lado da sócia.
“Considero o apartamento uma ode ao Brasil, à Bahia”, afirma, acrescentando que quadros, telas, fotografias e esculturas são todos de artistas regionais. Para ela, era fundamental que o décor fizesse reverência à sua baianidade, suas raízes, seus afetos – sem cair em estereótipos ou caricaturas normalmente atribuídos ao Nordeste do país, como faz questão de reforçar. “Na sala, há um quadro que Carybé fez para Jorge Amado e Zélia Gattai. Fico muito feliz de incluir até mesmo essa homenagem à literatura baiana nos interiores”, orgulha-se.
Entre refeições e pequenos encontros, a moradora costuma apreciar, da ampla varanda, alguns dos principais cartões-postais soteropolitanos, como o Elevador Lacerda e o Forte São Marcelo. “Não tem praia aqui embaixo, o prédio parece estar sobre o mar e ficamos no segundo andar. Então, a sensação é de observar a cidade a partir de um navio”, relata. Esse cenário quase cinematográfico harmoniza perfeitamente com a paleta cromática suave, repleta de tons claros, reforçada por uma mistura afinada de texturas naturais que inspiram o frescor litorâneo e o despojamento que Ticiana tanto aprecia.
Ao ser indagada sobre as diferenças entre o refúgio e seu endereço “oficial” na capital paulista, a jornalista não titubeia. “Aqui sou eu na minha essência, 100% baiana. Em São Paulo, o apartamento reflete os gostos da família toda”, comenta. “Acho que montar um apartamento é acumular histórias. Sempre fui muito ligada em arte e artesanato, fui comprando os itens aos poucos, outros objetos ganhei de presente… Guardei muitos deles ao longo da vida e agora criei essas conexões na decoração. Encontrei lugar para todas essas memórias aqui”, acrescenta. “Pensando bem… diria também que este apartamento sou eu, na minha versão relaxada, de fim de semana, com uma caipirinha de umbu na mão”, brinca.
FONTE: casavogue.globo.com